O Secretário de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul, Geraldo Resende, manifestou junto com os demais secretários estaduais de Saúde, ser contra a realização da Copa América no Brasil. A posição segue a linha do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) que divulgou nota nesta terça-feira (1º), em que demostra preocupação com o possível aumento de casos de Covid-19 no país.
Segundo Gerado Resende, o evento esportivo pode disseminar novas variantes do Coronavírus pelo país. “Um evento desta magnitude nos causa preocupação. Hoje (1º), o CONASS publicou o comunicado endereçando o manifesto ao Fórum de Governadores para que também se pronunciem contra a realização da Copa América no país. Acredito que apesar do futebol ser uma paixão nacional, ainda não é o momento de recebermos um evento deste tamanho no Brasil”.
Em comunicado oficial, assinado pelo presidente do CONASS, Carlos Lula, a entidade chama atenção para aumento de casos que ocorreu no país após eventos comemorativos e às eleições municipais e reforça a preocupação com o possível aumento de casos da variante indiana no país.
‘Por tudo o que foi descrito, e como os grandes eventos revelam-se extremamente importantes para a disseminação do vírus e determinam a necessidade de medidas extremas dos gestores para tentar conter a doença em seus territórios, este Conselho Nacional de Secretários de Saúde – CONASS entende absolutamente inoportuna e desaconselhável a realização de quaisquer campeonatos esportivos capazes de propiciar vários pontos de aglomeração, mesmo que os estádios não recebam torcida, sob pena de termos um agravamento ainda maior da situação epidemiológica no país. Isso se torna ainda mais dramático pela possibilidade da variante B.1.617.2, detectada inicialmente na Índia, vir a se instalar definitivamente no país’, afirma em comunicado.
Veja o comunicado na íntegra do CONASS:
A Sua Excelência o Senhor
WELLINGTON DIAS
Presidente do Fórum de Governadores
Assunto: Manifestação de preocupação com a realização da Copa América no Brasil.
Senhor Presidente, Senhores Governadores de Estado,
O Brasil vem experimentando aumentos sucessivos de casos e óbitos ao longo da pandemia de Covid-19. Tivemos nosso primeiro caso em fevereiro de 2020 e o primeiro óbito em março do mesmo ano. A partir de então, estamos testemunhando números exponenciais de casos e óbitos.
Iniciamos o mês de abril de 2020 com 6.834 casos da doença e 241 óbitos e terminamos o mesmo mês com 85.380 casos e 5.901 óbitos, o que já nos dava a ideia do gigantesco desafio a ser enfrentado.
Vimos os números darem saltos uma a duas semanas após eventos tradicionais que aglomeram muitas pessoas, como os feriados da Semana Santa, em abril; o Dia das Mães, em maio; as festas juninas (que, mesmo proibidas, ocorreram clandestinamente aglomerando grande número de pessoas em clima de festa).
Depois dessa sucessão de festividades, vimos o início de uma diminuição dos casos. Vieram, então, as eleições municipais, em outubro de 2020, com vários comícios com grande aglomeração de pessoas, onde as medidas preventivas eram totalmente negligenciadas. A partir daí, tivemos um grande aumento do número de casos, novamente, e desta vez com o agravante de ocorrer em quase todos os estados, ao mesmo tempo.
Após as eleições, vieram as festas do final do ano de 2020 (Natal e Réveillon), nas quais as famílias se aglomeram, negligenciando também as medidas não farmacológicas de proteção e prevenção. Já em janeiro do corrente ano, tivemos a disseminação de uma nova variante de preocupação (VOC), que se originou na região amazônica e causou grande número de casos e óbitos naquela região, levando ao colapso da rede de assistência e até dos serviços funerários. Essa variante tornou-se rapidamente prevalente em praticamente todo o Brasil, e tem seus reflexos até os dias atuais.
Nesse ínterim tivemos o feriado de carnaval. Mesmo que as festividades oficiais não tenham acontecido, várias festas clandestinas foram realizadas e causaram grande aglomeração.
Por tudo o que foi descrito, e como os grandes eventos revelam-se extremamente importantes para a disseminação do vírus e determinam a necessidade de medidas extremas dos gestores para tentar conter a doença em seus territórios, este Conselho Nacional de Secretários de Saúde – CONASS entende absolutamente inoportuna e desaconselhável a realização de quaisquer campeonatos esportivos capazes de propiciar vários pontos de aglomeração, mesmo que os estádios não recebam torcida, sob pena de termos um agravamento ainda maior da situação epidemiológica no país. Isso se torna ainda mais dramático pela possibilidade da variante B.1.617.2, detectada inicialmente na Índia, vir a se instalar definitivamente no país.
Em resumo, apresentamos as razões que desaconselham a realização de um evento de futebol internacional, assim como todos aqueles que tenham potencial para aglomerar pessoas:
1 – “Variantes de preocupação” do vírus podem ser disseminadas rapidamente;
2 – Eventos de aglomeração demonstraram a capacidade de adoecer grande número de pessoas, após sua ocorrência;
3 – As medidas de proteção e prevenção são muito difíceis de serem implementadas em tais situações;
4 – As pessoas, mesmo que vacinadas, podem se infectar, ou disseminar o vírus.
À oportunidade, reiteramos a Vossas Excelências os elevados protestos da mais alta consideração.
Atenciosamente,
CARLOS LULA
Presidente
Rodson Lima, SES
Foto: Wagner Guimarães, Alems